domingo, 24 de maio de 2009

Saudades de um cara 12

Eis uma humilde homenagem a um dos meus grandes parceiros dos já remotos tempos universitários. Um brevíssimo relato de alguém que não dedico outra alcunha a não ser meu amigo. Sua curta biografia, Victor.


Um estranho rapaz de voz estranha e cabelo estranho. Talvez esta seja a mais sintética das definições do saudoso Victor Godoi Castro. Mas mais que o tom de voz incomum – e até levemente sensual – e as mechas alvas que recobrem a cabeça, Victor marca quem o conhece por seu jeito de tratar as pessoas e, sem querer, fazer-se querido.

O Victor é o rapaz gente boa que se dá bem com todas as tribos. O parceiro de todas as horas, de todas as rodas de amigos. Sem importar-se com o dia da semana ou a hora indicada no relógio, ele sempre se mostra disposto a tomar mais um copo, seja de cerveja ou destilados, e divertir-se, sorrir e falar da vida dos outros – de brincadeira, claro. Além disso, Victor faz-se de despercebido, finge de morto, mas é um grande galanteador, um conquistador dos novos tempos, alvo de muitas mocinhas.

O nobre formando em Comunicação Social é o cara que nunca foi visto discutindo com ninguém. Tampouco alguém o viu dizer qualquer coisa de ruim acerca de outrem. Pelo contrário, o Victor só faz bem às pessoas, faz elas rirem, várias e várias vezes. É um cara engraçado por natureza, que se encaixa em qualquer meio social. Ele fez e faz parte de todas as turmas da faculdade, é bem-vindo na galera do estágio, se dá bem com o pessoal do alojamento e por aí vai. Em todos os núcleos, mostrou-se digno de confiança e de um alto posto da hierarquia interna. Uma pessoa fácil de ser admirada e gostada, de graça, talvez muito mais do que só pelo senso de humor requintado.

Quando chegou a Viçosa, da vizinha Ponte Nova, ainda mostrava-se meio perdidão, mas viveu todas as experiências imagináveis na Terra dos Sonhos. Talvez venham daí os traços claros nos cabelos – um reflexo, não da idade, mas da experiência de vida do simpático estranho garoto. Um amigo digno de deixar saudades e um lugar cativo, a fixed place, no coração de quem cruzou seu caminho.

terça-feira, 19 de maio de 2009

FIB

Você sabe o que é Felicidade Interna Bruta — a chamada FIB — e como aumentá-la? Eu também não. Mas saberei em breve.

Esta história começa há algumas semanas...

Participei de uma promoção da Coca-Cola que premiaria 16 concorrentes com uma viagem à África do Sul para assistir à Copa das Confederações. Lapidei uma frase defendendo porque eu deveria ser o escolhido e enviei. Aguardei ansiosamente já me imaginando no avião, no hotel, no estádio, no safári. Saiu o resultado e, claro, não ganhei. Claro porque se eu tivesse ganhado, já teria contado para todo mundo.

A derrota em si não me surpreendeu, mas a pobreza das respostas premiadas sim. Além da descarada falta de criatividade, até erro de ortografia eu encontrei. Das duas uma: eles sortearam qualquer inscrito ou é só uma estratégia de lavagem de dinheiro. Para tirar a prova, estabeleci minha mais recente meta para 2009: ganhar uma promoção.

Descobri sites especializados em separar links de concursos virtuais e, durante alguns dias, dediquei meu tempo livre a concorrer aos mais variados prêmios, como câmeras, fogões, um Captiva e até uma camisa do Fluminense. Ontem, ao abrir meu e-mail, recebi a notícia: minha primeira vitória! Foi a meta que cumpri mais rápido na vida.

Sou um dos ganhadores do Livro FIB, elaborado pelo Grupo Icatu Hartford. Respondi, de forma despretensiosa, à pergunta: Por que você merece ganhar um Livro FIB?. O presente parece ser uma espécie de roteiro de condutas com dicas sociais, comportamentais, cultuais e ambientais para se viver melhor. Parece legal. No site Felicidade Interna Bruta tem a versão online.



Quem quiser emprestado, só pedir. Afinal, promessa é promessa.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Manual do assentado - Anexo 1



Ratifico: caso haja variedade de lugares vagos no ônibus a serem escolhidos e a experiência com o trajeto indicar que em pouco tempo o coletivo se lotará, opte por uma janela. Aos defensores dos bancos do corredor — que têm suas alegações no maior espaço dispensado às pernas e na facilidade para deixar o ônibus — meu argumento:

Atualmente percebo que aumenta a quantidade de pessoas que veem na superlotação do transporte coletivo uma oportunidade de sarrar alguém. Esses aproveitadores pousam a genitália maliciosamente sobre os ombros do passageiro na cadeira do corredor, enquanto, por dentro, regozijam-se de prazer. Injustiça, imperdoável.

Outro ponto ainda não abordado: a subida ao ônibus é um momento-chave na estratégia para repouso na viagem. É imprescindível entrar o mais rapidamente possível no veículo. Lembre-se: se há nove pessoas no ponto à espera do coletivo, provavelmente há apenas oito lugares vagos. Posicione-se à frente das senhoras e crianças. O Murphy está de olho em você.

A propósito, cavalheirismo é para os fracos.

sábado, 9 de maio de 2009

Saudades de um cara 11

Morar fora em tempos universitários é época de descobrir amores, conhecer amigos e formar nova família. Foi assim na República É Mentira Dela!

Bezinelli, Manoel, Noavo, Cano e Wiber

Por Matheus Espíndola

Foi um tempo curto, mas incrível. Tomemos como marco inicial o dia em que um moreno forte e crespo arrancou, do painel do R.U, o anúncio de vaga para morar com outros estudantes no pomposo Edifício Tocqueville. Com a maior cara de pau, ao retirar o pequeno cartaz do frequentado mural, Pedro Bezinelli eliminou a concorrência para fazer parte daquele lar. Numa tarde especial, de Nico Loco — quando esta ainda era a balada soberana da cidade —, ele chegou.

À sua espera, estava o então líder Cano, que, por uma inesperada manobra do destino, já havia se relacionado com a namorada do novo integrante. Este, porém, no passado, tivera um affair com a cobiçada e protegida irmãzinha de outro membro: o pequeno, mirabolante e formidável Manoel. A primeira impressão foi fulminante. Formava-se, ali, uma família.

Na área de serviço do confortável apartamento, residia o caçula, e, por sinal, o galã da casa, conhecido como Wiber. Embora nem tivesse atingido a maioridade, era o mais maduro do lar e o guardião das finanças. O que esses sujeitos tinham em comum? Eles viviam o ápice da juventude. Solteiros, curtiam intensamente a vida boêmia. Com o passar do tempo, as mocinhas da cidade passaram a não aprovar tal comportamento leviano e muito se queixavam dos garotões. Acusados injustamente, eles se inspiraram numa poética canção da dupla “Teodoro e Sampaio” para batizarem a república: É Mentira Dela!

...

Passados alguns dias, o ponderado Noavo ingressava na informal moradia. Destoava dos outros companheiros, pois era comprometido, tinha quase 30 anos de idade e cursava o mestrado. Sua integração foi mínima, uma vez que ele passava todos os dias, noites e madrugadas praticando caloroso e barulhento sexo em seu quarto. No ano seguinte, desembarcou na república o prendado e talentoso Noego. Filho de um renomado cheff de cozinha, Noego tinha dons culinários fenomenais. Andava cercado de menininhas, mas não deixava ninguém pegá-las — nem ele mesmo. As aventuras vividas foram inúmeras, mas são assunto para outra hora...

...

O lar começou a desmoronar quando Manoelzinho transferiu-se para uma instituição de ensino de melhor reputação. Logo após, Cano concluiu a graduação e também sumiu no mundo. Desmotivados, Wiber, Noego e Noavo se foram. Bezinelli permaneceu no mesmo local, mas preferiu por um ponto final naquela fascinante lenda — e chefiou a formação de uma nova equipe, com outra denominação. Pouco mais de um ano durou a breve saga da residência onde imperou a ternura e a alegria. Um verdadeiro conto de fadas chamado República É Mentira Dela!




Nota do editor: Após mudar-se, Wiber formou, com sua turma da faculdade, a República Grillo. Por minha sugestão, estão concorrendo ao concurso República Redonda, da Skol. Vote neles!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Bem-vindo ao Brasil, Imperador!


O tempo é de chegada de astros do futebol internacional ao Brasil. A notícia mais recente é o segundo retorno do centroavante Adriano aos gramados tupiniquins. Desta vez, o atacante volta à Gávea e ao Flamengo, que tão bem conhece. Com Adriano, o Campeonato Brasileiro ganha mais uma atração. A disputa tem tudo para ser a mais acirrada e emocionante dos últimos anos.

O dono da perna esquerda mais potente do futebol mundial na década tem agora mais uma chance de provar que não é um atleta-problema. Enquanto defendeu o São Paulo, em 2008, o Imperador avançou contra um fotógrafo e provocou um acidente automobilístico, supostamente alcoolizado. A volta à Inter de Milão foi marcada por faltas em treinamentos e chegadas atrasadas, temperadas com ressaca. No Rio, festas extravagantes e indícios de vícios de entorpecentes e depressão. Hora de reencontrar-se com as redes, agasalhar-se de novo de respeito e pleitear uma vaga na Amarelinha. E de provar ao Flamengo que vale mais que um Vampeta.

Antes de tudo, Adriano precisará reacostumar-se à realidade técnica do futebol brasileiro. Nada de trocar passes com Robinho, Kaká, Luis Fabiano, Ronaldo, Ibrahimovic, Figo, Crespo. É olhar para o lado e ver Josiel, Zé Roberto, Maxi e até Obina. Mas craque que é craque joga até sozinho.

Vem aí o Campeonato Brasileiro de Adriano, Ronaldo, Fred, Nilmar, Washington, Kleber e Kleber Pereira. De promessas com potencial de fazer história, como Keirrison, Tayson e Ciro. E do melhor centroavante do primeiro semestre no país, Diego Tardelli. Todos têm bola para jogar em qualquer grande seleção europeia. Só a turma do Dunga parece não perceber...

Como seria bom se os brasileiros reconhecem o momento único que o futebol nacional vive e parassem de criticar astros de clubes rivais gratuitamente, só por, hoje, ele não vestir a camisa da agremiação preferida. O Brasileirão vai pegar fogo e o artilheiro de 2009 ficará marcado como o Rei do Gol no país. Que vença o melhor. Bem-vindo ao Brasil, Imperador!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Cenas do cotidiano 4


O cidadão sai da academia, por volta das 22 horas, segurando em uma mão as duas luvas e na outra uma garrafa de água. No corpo, uma antiga camisa do Corinthians. Na rua em frente, um andarilho, mal-encarado, visivelmente com poucos recursos materiais, espera uma mulher, que chega devagar, maltrapilha, descabelada, magricela, com um top menor que um sutiã e a face feia envolta por fumaça do cigarro na mão. O sem-teto mira o malhador amador, levanta o dedo, abre o sorriso e cantarola:

– ♫Salve o Corinthians!♪ E o Ronaldo, heim?!
– É...
– É o cara para fazer gol!
– É...
– Este é o verdadeiro Ronaldo!
– É...
– Me arruma dez reais.
– Quê?? Não tenho, tô saindo da academia. Só trouxe as luvas e a garrafa.
– Mas e aquele negócio do bando de loucos?
– ...

domingo, 3 de maio de 2009

Cenas do cotidiano 3


Missa de domingo. Um garotinho, loiro, com roupas coloridas e um carrinho na mão, caminha pela igreja, sob os olhos dos pais.

Todos estão ajoelhados, concentrados. O padre prega: “Tomai todos e bebei. Isto é o meu sangue...”

O garotinho procura a mãe.

“Quer fazer cocô!”, adverte, com tom de urgência, quebrando o silêncio no templo de oração.

Os fiéis surpreendem-se, seguram o riso mordendo a boca. Até a matriarca do jovem requisitante tenta controlar-se, enquanto leva o dedo indicador aos lábios para o tradicional “sshhhhh”.

O pequeno reprova, fuzila a mãe com os olhos apertados, enche o peito e, cheio de razão, ordena:

“Quer fa-zer co-côôôô!”

A senhora levanta-se e sai levando pela mão a criança vitoriosa, que continua com cara fechada. Todos ainda esboçam sorrisos.

Pelo odor que fica no ambiente, o garoto não estava de brincadeira. Poderia até ter avisado um pouco antes.